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Dia da Mulher Negra – Conselho da Mulher de Três Pontas promove Roda de Conversa em apoio à luta das mulheres negras por direitos e ao enfrentamento às violências diárias

Uma Roda de Conversa foi organizada pelo Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Mulher de Três Pontas. Prontamente aceitaram o convite para participar do evento, dona Maria Ramos de Jesus Moreira, conhecida como dona Neném; a cantora e compositora Isabela Morais, fotógrafa Keila Oliveira e a vereadora Maria Selena Silva. Ao grupo, se juntaram a delegada Regional de Polícia Civil de Varginha, Dra. Renata Fernanda Gonçalves de Rezende; a conselheira do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Social (Compir), Hosana Valdomiro Manoel e também a secretária Municipal de Assistência Social, Aparecida Maria Chaves Garcia – que tem sido bastante elogiada pela atuação humana à frente da pasta.

Realizada na tarde da quarta-feira (21), nas dependências da Casa da Cultura “Alfredo Benassi”, a Roda de Conversa se tornou instrumento de valorização do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado neste domingo (25). 

Elas por elas – Roda de Conversa na Casa da Cultura de Três Pontas em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha: dona Neném, Hosana, Isabela, Keila, Aparecida Maria, dra. Renata e Selena

“Foi um momento importante que resultou na troca de experiências e saberes entre as participantes, fortalecendo, assim, o papel do Conselho da Mulher nas ações de construção de uma sociedade mais justa, mais inclusiva e sem racismo”, destaca a presidente do Conselho, Maísa Patrícia Velloso.

Dar visibilidade ao CMDDM, conforme explica Maísa, é estimular as mulheres negras que sabem onde querem chegar para que estas sejam inspiração para outras mulheres; é, consequentemente, apoiá-las em suas lutas por direitos e no enfrentamento às violências cotidianas.

“Enquanto Conselho, reafirmamos o compromisso de construção de uma política que articula gênero, raça e classe como elementos estruturais das desigualdades sociais, uma política que assegure a todas as mulheres liberdade, igualdade de direitos e ampla participação na sociedade que integram”, completa a presidente.

A presidente Maísa Velloso (ao centro) e demais membros do CMDDM de TP

Dados mostram que o “feminicídio tem cor”

As mulheres negras estão no topo da cadeia de vulnerabilidade. Quando há uma violência contra a mulher, a vítima é negra em mais da metade dos casos. A informação abriu a Roda de Conversa. As participantes debateram ainda um outro dado entristecedor: no Brasil, os homicídios de mulheres negras cresceram 54,2%. “Os números mostram que o feminicídio tem cor”.

Outra dura realidade, além do racismo, é o sexismo. A pesquisadora e feminista negra, Djamila Ribeiro aponta que as negras sempre foram estereotipadas como ‘mulheres quentes’ desde o período colonial. “Toda essa construção contribui para que mulheres negras sejam as mais violentadas, a violência é naturalizada”.

Estudos apontam também que as mulheres negras são discriminadas em diversos setores, tais como no mercado de trabalho. Maísa Velloso enfatiza que a população negra enfrenta dificuldades para conseguir emprego e, ainda, recebe salários menores, é submetida a condições precárias, à exploração da mão de obra e ao assédio moral e sexual. “Tudo isso em razão da herança cultural, racista e escravocrata”, analisa.

A delegada da Polícia Civil de MG, Dra. Renata e a vereadora trespontana Selena Silva

A data

Em 1992 um grupo de mulheres iniciou uma mobilização pela criação da Rede de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, juntamente à Organização das Nações Unidas (ONU), e conseguiu que o dia 25 de julho fosse reconhecido como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. Nascia, então, um marco para reafirmar a necessidade de enfrentar o racismo e o sexismo vivido até hoje por mulheres que sofrem com a descriminação racial, social e de gênero.

No Brasil, em 25 de julho é comemorado ainda o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela foi uma líder quilombola de destaque, que resistiu à escravidão durante duas décadas no século XVIII, lutando pela comunidade negra e indígena que vivia sob a sua liderança. A data comemorativa foi instituída pela Lei nº 12.987/2014.

Neste domingo (25), diversos coletivos e movimentos de mulheres negras lutaram juntos por mais direitos, tais como, por educação, saúde, assistência social, moradia digna, trabalho decente, enfim, por respeito.

Participantes da Roda de Conversa

Maria Ramos de Jesus Moreira

Dona Neném, nascida na cidade de Paraguaçu, veio para Três Pontas onde foi acolhida com sua família. Ainda muito jovem, casou-se e teve seis filhos. Batalhou arduamente junto ao seu marido, José Benedito Moreira para dar uma vida digna à sua família. Hoje com UM SÉCULO de idade deixa claro sua gratidão pela cidade e todo orgulho pela história de luta que viveu.

Isabela Morais

É cantora, compositora, produtora cultural, oraculista, mestre em Ciências Sociais pela UNESP Araraquara, com pesquisa em canção e estudos culturais. Lançou em 2020 seu primeiro álbum autoral, fruto de financiamento coletivo, “Do Absurdo”, produzido no eixo Três Pontas – Porto Alegre, reunindo diversos músicos, compositores e parceiros.

Atuando desde cedo na carreira artística, iniciou seus estudos no Conservatório Municipal de Música Heitor Villa-Lobos em Três Pontas, participou da gravação do álbum e da turnê do projeto “E a gente sonhando” (2010-2011) de Milton Nascimento. É integrante da equipe Ummagumma The Brazilian Pink Floyd desde 2002 e também produtora responsável pelo festival realizado pela banda, Ummagumma Classic Rock Festival.

Já se apresentou em importantes casas e instituições em BH, Rio e São Paulo, com tributos em homenagem a Elis Regina, Vinicius de Moraes e Ary Barroso.

Atua também como arte-educadora em cursos de formação de professores para o uso de canção em sala de aula. Lecionou Sociologia e Filosofia na ETEC Irmã Agostina em São Paulo, em 2014 e em 2017 e 2018 no Colégio Prósperi em Três Pontas.

Isabela Morais é responsável pela Desalinho Produções e oraculista na Desalinho Anacrônico.

Keila Oliveira

Fotógrafa há 10 anos, Keila Oliveira criou um projeto que se chama Ela Pode, com o intuito maior de resgatar a autoestima das mulheres, empoderando-as. Faz o ensaio das mulheres participantes do projeto em um “sensual boudoir”, trazendo a consciência do mulherão que elas são, tendo como consequências o auto valor e a não aceitação de relacionamentos abusivos.

Maria Selena Silva

Nasceu em Três Pontas em março de 1972, filha de Maria do Carmo Silva e Adélio Floriano que foi seu pai de criação. É mãe de Isabele Cristina, Sanes Gustavo e Wesley Gustavo. Nas eleições de 2020 foi eleita pelo PSD e assumiu seu primeiro mandato como vereadora. Selena trabalhou na zona rural quase toda sua vida e foi também faxineira. Criou seus filhos sozinha e sofreu violência doméstica, psicológica e outras.

Renata Fernanda Gonçalves de Rezende

Delegada Regional de Polícia Civil – Nível Especial. Lotação atual: 2ª Delegacia de Polícia Civil de Varginha. Pós-graduada em Direito Público pela Escola Paulista de Direito. Exerce a função de Delegada de Polícia no Estado de Minas Gerais há mais de uma década e antes de ingressar para os quadros da Polícia Civil Mineira, exerceu a advocacia privada durante quatro anos, inclusive, integrando a OAB/SP junto ao convênio da Assistência Judiciária à população do Estado de São Paulo, lhe sendo conferido, o Diploma de Honra ao Mérito no ano de 2006. Dra. Renata apresenta experiência no gerenciamento de unidades policiais, tendo atuado como Delegada de Polícia em diversas regiões do estado de Minas, administrando delegacias, presidindo inquéritos policiais, coordenando e participando de buscas e apreensões, prisões e operações policiais, em especial, de organizações criminosas interestaduais. Com perfil proativo, ministrou inúmeras palestras em vários órgãos e universidades particulares e federais. Também laborou na Corregedoria-Geral de Polícia Civil em Belo Horizonte.

Hosana Valdomiro Manoel

É vice-presidente do CMDDM e integrante do Grupo Afro Irmãos do Quilombo, que tem o objetivo de resgatar a história e cultura dos negros trazidos da África e escravizados no Brasil, buscando o não esquecimento desse povo e as lutas que seus descendentes passam até hoje no país e trazendo toda a riqueza e inteligência que não se perderam mesmo depois de tanta violência e segregação.

Hosana Manoel integrou a Comissão de Organização do Movimento de Criação do Conselho Municipal da Promoção e Igualdade Racial de Três Pontas, cujo Projeto de Lei foi aprovado em 2017.

A centenária dona Neném: experiência de vida na Roda de Conversa

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