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Coordenador da Confederação dos Artesãos do Brasil inicia trabalho de apoio e incentivo em Três Pontas

Ele estava na turística Fama (MG) quando se deslocou até o Pontalete na companhia da presidente da Associação de Artesãos e Artistas Plásticos de Três Pontas (Arplast), Adriana Silva Santiago. Da cidade de Três Pontas até o distrito banhado pelo Lago de Furnas, o visitante Gutty Pianetti percebeu que o turista pode se perder pelo caminho. “É um labirinto de cafés, lindo, mas é um labirinto. Falta o cuidado de orientação, falta olhar como o turista enxerga”, opinou.

Igreja do Distrito do Pontalete, Três Pontas (Foto: Alecxander Rabello/arquivo)

No Pontalete, Gutty Pianetti, coordenador da Confederação Nacional dos Artesãos do Brasil (CNARTS) em Minas Gerais ficou atento a detalhes. Avaliou a arquitetura do lugarejo e da Igreja “maravilhosa” e fez elogios também a um restaurante, concluindo que a localidade se prepara para se tornar um belo balneário. Foi lá que teve ainda as primeiras impressões sobre os artesãos e sobre o artesanato trespontanos. E ele veio para isso: observar, afinal consultorias, palestras, feiras e eventos, qualificação, estruturação de associações são tarefas do coordenador da CNARTS no estado.

Adriana Santiago fez o convite, de olho na possibilidade de uma parceria que possa abrir novos caminhos, promover melhorias nos trabalhos e trazer mais rentabilidade. “Vou buscar avanços, sempre. Estou muito feliz com a presença do Gutty aqui em nosso município porque ele nos traz um gás, eleva até a nossa autoestima. Acredito que haverá uma reviravolta no artesanato de Três Pontas. Temos que revelar o trabalho dos artesãos, da Associação”, justificou a presidente da Arplast.

Ambos destacam que o artesanato pesa positivamente na economia das cidades, do estado e do país e que, portanto, é digno de apoio por parte dos gestores das três esferas de governo. Aliado às políticas públicas, analisam, a população precisa entender a importância do setor. “O artesanato é uma marca da cidade. O turista quer e temos que ter para oferecer, isso valoriza o artesão que é criativo, que resgata memórias deixadas por avós, por pais; que transmite cultura e que vive desse trabalho. O artesão é um trabalhador, é um profissional e tem que ser assim respeitado. Essa é a nossa luta permanente e eu vou continuar lutando para dar visibilidade ao nosso artesão e ao artesanato para Três Pontas, para Minas, para o Brasil e para o mundo”, abraça Santiago.

Depois de visitar o Pontalete no domingo (22 de janeiro) quando aconteceu no distrito o “Arte e Fé”, promovido pela Prefeitura – através da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Turismo, Gutty Pianetti retomou suas atividades em Belo Horizonte sem ignorar a necessidade de ajuda de Três Pontas. De volta à “Capital Mundial do Café”, à “Terra de Padre Victor” nesta segunda-feira (6), ele esteve na Câmara de Vereadores e entre os compromissos conversou longamente com os artesãos da Arplast e com a secretária de Cultura Dilma Messina. Nos primeiros passos de auxílio à categoria propôs realizar em Três Pontas a Feira do Artesanato Mineiro. A intenção é inserir o artesão e o artesanato locais em um ambiente com mestres vindos de diferentes regiões de Minas e peças que apresentem identidade cultural, qualidade, criatividade. “Trazendo artesãos de fora, o morador local vai visitar a feira, vai saber que o valor artesanal é grande. Então, a feira seria o primeiro passo para a qualificação do artesão local. Precisamos trazer a ele uma nova visão, descobrir a identidade cultural, resgatar tradições, pontos antigos. Nosso objetivo é organizar a categoria”, explica Pianetti.

Entrevista

Gutty Pianetti

Coordenador da Confederação Nacional dos Artesãos do Brasil em Minas Gerais

Sintonizeaqui: Gutty, que importância tem hoje o artesanato para os segmentos social e econômico do Brasil?

Gutty Pianetti: o artesanato é desenvolvimento econômico, é desenvolvimento social e é atrativo turístico. Se conseguimos ‘linkar’ tudo isso, há um novo olhar para o artesão local que, aqui, eu senti é totalmente desvalorizado. No Brasil, segundo o Ministério do Trabalho, o artesanato gera 3,4% do PIB, isso são R$ 28 bilhões – é muito dinheiro. Então, o artesanato é considerado um grande poder econômico no Brasil. Em Minas Gerais, esses dados são 3,4% do PIB. Temos no nosso estado a maior feira de artesanato da América Latina, temos diversos artesãos que viajam o país inteiro, diversas feiras de grande porte, fora compradores e revendedores. O artesanato é renda, é turismo, é ascensão social.

Sintonizeaqui: qual foi a sua primeira impressão ao se deparar com o artesanato de Três Pontas quando você visitou o Pontalete no evento “Arte e Fé”?

Gutty Pianetti: o que eu vi, talvez com exceção de duas peças, todos precisam de qualificação. A qualificação engloba identidade cultural, acabamento, embalagem, atendimento, conhecimento sobre a peça e o principal: entender o que o turista quer. Hoje, o turista não quer só tirar foto, mas também adquirir experiência, então, quer saber de onde vem aquela peça, qual é a história dela, como  e porque a peça é feita porque ele vai replicar isso, vai valorizar. 

Sede da Arplast, no Centro de Três Pontas

Estou descobrindo o artesanato de Três Pontas. Aqui tem um artesanato que eu chamo de passo a passo, ou seja, que se aprende na revista, na televisão. Esse tipo de artesanato, percebemos normalmente em pessoas que estão iniciando seus trabalhos como artesãos e ainda não têm um repasse de saber. E tem também um artesanato muito bom, que é desenvolvido à base de palha de café. Aqui, eu vi peças manuseadas. Vi crochê, fuxico, mosaico, contas. Não conheço toda a cadeia do artesanato local, mas vi coisas interessantes. No entanto, o artesanato mais valorizado é aquele que vem de família, que vem de tradição.

A grande identidade cultural que eu vejo na cidade é Padre Victor. Temos que valorizar esse ícone no artesanato. Não vi peças relacionadas ao Beato, com exceção de peças de gesso, que para mim não alcançam valor de artesanato porque são réplicas. A cidade tem também como identidade cultural o café e eu conheço apenas um artesão de Três Pontas que trabalha essa identidade com uma técnica específica.

Sintonizeaqui: após esse primeiro contato, alguma sugestão para dar início a uma possível mudança, a uma valorização do artesão e do artesanato trespontanos?

Gutty Pianetti: minha proposta é que façamos aqui em Três Pontas uma grande feira do artesanato mineiro e que possamos trazer para cá mestres, alguns ícones do artesanato de Minas. Trazer Vale do Jequitinhonha, Ouro Preto, enfim.

Sintonizeaqui: a CNARTS já realiza essa Feira no Sul de Minas?

Gutty Pianetti: sim, em São Lourenço. Fazíamos uma por ano e turistas começaram a chegar procurando pela feira. A Prefeitura nos pediu e agora realizamos duas edições anualmente. Trago grandes mestres e a feira tem esse diferencial.  

Sintonizeaqui: e qual seria, digamos, a vantagem de trazer artesãos e peças de fora?

Gutty Pianetti: toda novidade assusta. Os artesãos trespontanos podem pensar que traremos concorrentes, mas não é nada disso. Ao contrário: trazendo artesãos de fora, o morador local vai visitar a feira, vai saber que o valor artesanal é grande. Então, a feira seria o primeiro passo para a qualificação do artesão local. Precisamos trazer a ele uma nova visão, descobrir a identidade cultural, resgatar tradições, pontos antigos. Nosso objetivo é organizar a categoria.

Sintonizeaqui: uma das linhas de trabalho da Confederação é a estruturação de associações.

Gutty Pianetti: sim. A tendência do artesão é ficar solitário, ele tem medo do concorrente, tem medo de aprender, de organizar sua oficina, não sabe por preço em suas mercadorias, não sabe precificar o que faz: simplifica por dois, três e pronto. Existe uma metodologia e o artesão tem que entender o valor que a mão dele trabalha. Em uma associação o artesão se fortalece porque tem informações.

Sintonizeaqui: Pianetti, sobre políticas públicas. A CNARTS considera a participação, a presença, a atuação do poder público fundamental também para esse segmento?

Gutty Pianetti: nós temos também um olhar político porque toda categoria depende do vereador, do prefeito, do deputado, do senador, do presidente. Minas é o maior celeiro do artesanato brasileiro e faz pouco tempo que se pensa em políticas públicas voltadas para esse segmento. Uma conquista: Minas tem a Frente Parlamentar Mista em Defesa do Artesão e Apoio ao Artesanato. São deputados que, independentes de partidos, estão fomentando políticas públicas para o artesão, para o artesanato. O presidente é o deputado Fred Costa e estamos estudando um Projeto de Lei que defende um selo de qualificação do artesanato mineiro. Esse selo dará autenticidade ao que realmente é artesanato de qualidade e de Minas Gerais, e se comparará ao selo do café, do queijo. Isso vai facilitar a exportação. O artesanato mineiro é cobiçado por outros países, mas a dificuldade de se exportar é muito grande. Na Cidade Administrativa existe um setor que trabalha a exportação, inclusive de artesanato. A Arábia Saudita é uma grande compradora do artesanato mineiro, mas temos dificuldade em ter padrão, qualidade, certificação.

Sintonizeaqui: então, presume-se que as ações públicas devam começar pelos municípios, pelo envolvimento de prefeituras e câmaras de vereadores.

Gutty Pianetti: o município é a casa do artesão, então, a prefeitura tem que ter um olhar diferenciado. A maior dificuldade do artesão chama-se desprezo. Ele não é serviço, ele não é comércio e não é indústria. Para o gestor público entender o que é artesão é muito difícil porque ele não está preparado para isso. O artesão é cultura, é repasse de saber, é desenvolvimento econômico, mas como se joga isso em um plano onde só existem prestação de serviços, comércio e indústria? Esse olhar é que temos que mostrar para os gestores públicos.

Sintonizeaqui: voltando à Feira do Artesanato Mineiro, você fez a proposta para a Prefeitura de Três Pontas nesta sua visita à cidade?

Pianetti com a artesã Fátima, com a secretária de Cultura Dilma Messina e com a presidente da Arplast, Adriana Santiago

Gutty Pianetti: nós apresentamos a proposta da realização da Feira do Artesanato Mineiro à Secretária Municipal de Cultura, Dilma Messina. Dissemos a ela que a feira é uma proposta para alavancar, motivar os artesãos e toda a cidade porque será uma honra ter na cidade de Três Pontas, por exemplo, peças de GTO – primeiro mestre do artesanato popular, que está em 124 países. GTO tem peças em quase todos os museus importantes, tem em Louvre, no Vaticano e é um artesão brasileiro cuja obra segue nas mãos do filho Mário Teles e do neto Alex. GTO pode vir à feira em Três Pontas, não para vender peças que custam R$ 20 mil, mas com o intuito de valorizar a feira. A feira em Três Pontas poderá ter Lourdes, de Ouro Preto, que foi escolhida uma das cinco melhores técnicas do mundo, foi para a Índia repassar o saber do seu bordado de agulha. Da região, temos o Gustavo Vilela aqui de Três Pontas que trabalha a palha de café, temos o senhor Osvaldo que retrata o dia a dia rural com peças feitas a canivete. Quer dizer, vamos trazer para a cidade grandes mestres, grandes artesanatos. Vem o turista, compra o artesanato e independente da região de Minas de onde é a peça ele, quando chegar em seu local de origem, vai dizer: ‘comprei em Três Pontas’. Então, lá na frente ele estará divulgando, valorizando a cidade através do artesanato.

Gustavo Vilela e seu artesanato em palha de café são conhecidos e elogiados pelo coordenador da CNARTS

Sintonizeaqui: no evento, caso ele se concretize, onde ficarão os artesãos de Três Pontas? Haverá espaço para eles entre os mestres?

Gutty Pianetti: esse é mais um ponto importante: a experiência, a vivência que o turista e o próprio artesão vão ter em termos de qualidade em um espaço pequeno: eles vão visitar Minas Gerais inteiro com o melhor que existe no artesanato. Essa riqueza vai refletir em todos os artesãos locais que não fariam sucesso algum em um cantinho da praça. Os artesãos de Três Pontas estarão inseridos na feira e serão vistos com outros olhares. O morador local vai ver o artesão local perto de mestres, então, saberá que aquele artesanato que ele tem em sua cidade também tem valor. Estar vendendo em uma praça não significa necessidade econômica, mas que o artesão está trabalhando, investindo na cultura da cidade, dando continuidade a uma tradição.

Sintonizeaqui: sua análise sobre a iniciativa da Arplast em procurar possibilidades de melhorias junto à CNARTS. É um sinal de visão empreendedora?

Pianetti e a presidente da Arplast, Adriana Santiago: parceria pela coletividade

Gutty Pianetti: eu acho que a Associação deu o passo rumo à melhoria do artesanato trespontano. A presidente, Adriana Santiago, buscou informação em um congresso em Elói Mendes, ano passado, primeiro da CNARTS no Sul de Minas. O congresso transformou a região. Foram quase 20 cidades e todas começaram a sair do marasmo, começaram a saber que existe um movimento. A partir disso, ela soube que existem várias possibilidades, ela entendeu quais os tipos de artesãos existem aqui: se servidão, que ganha seu sustento trabalhando para alguém, que trabalha com as mãos e medidas, que replica; se padrão, que trabalha com medidas e criatividade, então pega uma matéria-prima e transforma em um objeto de artesanato; ou se mestre que trabalha com as mãos e alma. Em uma peça de um mestre você vê sentimentos, movimentos, detalhes. É totalmente diferente. Em qualquer uma dessas categorias existe o artesão empreendedor. A Adriana Santiago é uma artesã empreendedora, ela busca agregar, ela busca para a coletividade.

Sintonizeaqui: a busca pela identidade cultural pode de alguma maneira afetar a linha de trabalho já decidida por artesãos locais?

Gutty Pianetti: Está nos primeiros passos a assessoria. Ir até o ateliê, ir até o artesão, ver e escutar o que ele faz, sem intervenção alguma. Isso para entender. Depois, a gente vai traduzindo porque não podemos simplesmente chegar impondo; não, lidamos com cultura e é preciso entender para criar-se a identidade cultural, ou seja, é dar às pessoas a possibilidade de identificar de que local é aquele artesanato. Um café eu sei que é do Sul de Minas, se pego o Padre Victor sei que é de Três Pontas. É claro que não vamos vender apenas identidade cultural, mas é essa identidade cultural que vamos levar para feiras nacionais e internacionais porque no olhar de um crítico é isso que vale.

Sintonizeaqui: Gutty, qualificar é um trabalho de formiguinha, a longo prazo?

Gutty Pianetti: eu diria de curto prazo porque o artesão está pronto, então ele se molda muito fácil. Vamos qualificar, a gente mostra o caminho.  Um exemplo: quem sabe fazer crochê, sabe fazer crochê. Se ele vai modificar um ponto, se ele vai fazer um desenho diferente, se ele vai melhorar a embalagem, se ele vai abrir um sorriso é fácil. Difícil são os gestores públicos entenderem e eu não estou falando especificamente de Três Pontas, mas nossa maior dificuldade é gestão pública porque em termos de dinheiro é muito pouco para a prefeitura, mas em termos de benefícios para a cidade e para a população é muito grande. Mas se não é serviço, não é comércio e não é indústria acha-se que não é nada e o artesanato é, e muito, importante. O Governo Federal enxerga isso, os municípios nem sempre.

 

 

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