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Dia dos Namorados – Pessoas com deficiências e o direito de amar

Arlene Brito

Nessa segunda-feira, 12 de junho, diretores e funcionários da Apae de Três Pontas presenciaram um momento singelo na instituição: a troca de presentes feita por casais de namorados. São sete pares, formados por pessoas com deficiências e o que chamou a atenção da diretora, Maria Rozilda Gama Reis, é que não houve interferência da entidade. O gesto para marcar o Dia dos Namorados partiu dos próprios jovens, com apoio de suas respectivas famílias. Caixa de bombom, camiseta, tênis, bijuteria, cosmético, enfim, o carinho foi demonstrado e também materializado na data, como eles, especial.

As pessoas com deficiências têm esse direito: o direito de amar. E para que elas vivenciem a experiência da forma mais natural e responsável possível recebem orientações sobre relacionamento, afetividade, sobre sexualidade. Na Apae, alunos a partir dos 14 anos passam a contar com as informações. O trabalho faz parte do sistema educacional, mas é necessário principalmente porque falta esse tipo de diálogo em casa. “Muitas vezes temos que atuar na conscientização também da família que, para proteger, geralmente trata a pessoa deficiente como bebê, como uma criança. No entanto, temos que seguir a idade cronológica dessa pessoa e prepará-la para o suprimento sensato de suas necessidades”, explica Rozilda Gama.

De coração mais puro, deficientes se apaixonam num piscar de olhos. A preferência por outra pessoa com problemas, com características semelhantes é a mais comum e, no entendimento da diretora da Apae, tem a ver com a exclusão social.  “Infelizmente eles encontram dificuldade de socialização, são discriminados. Se houvesse a real inclusão social, facilitaria o encontro de um par que pudesse ajudar nas limitações, mas não! Com raras exceções, o amor nasce entre eles mesmos, no ambiente comum aos deficientes”, observa.

A carência da inclusão desperta em meninos e meninas grande interesse por eventos promovidos pelas Apaes porque  – sabem – é oportunidade de conhecer gente “igual” a eles. E aí, além de novas amizades, algumas paixões brotam e são alimentadas pela facilidade da comunicação tecnológica. Pelo celular acontece a troca de fotos, pequenas mensagens de texto e voz. E, como essas pessoas são especiais, mas não imunes à desilusão, a preparação para a vida inclui o possível rompimento, o sofrimento provocado pelo amor não correspondido.

“O afeto, o carinho que sentem são iguais a de qualquer outro casal dito normal”, completa Rozilda Gama. O que muda, na grande maioria dos casos, é que livres de maldade esses adolescentes levam apenas alegria para seus pares. Juntos conversam muito, dão boas risadas, vivem intensamente o namoro. Entre eles prevalecem o compromisso, a fidelidade, o respeito. Brigas, discussões, cobranças estão fora dos encontros, “um exemplo que todos os enamorados deveriam seguir”, opina.

Vigília

Tanto envolvimento, tanta entrega exige monitoramento. A inocência de coração e mente leva ao entendimento de que tudo é natural. Então, pessoas especiais acreditam que um beijo, um carinho, um abraço podem ocorrer em qualquer lugar, a qualquer hora, uma espontaneidade que precisa ser orientada. “A natureza é para todos. Nós temos desejos, eles também. Eles podem, têm direito e vão namorar, mas necessitam de apoio e intervenção, inclusive, familiar”, destaca a diretora da Apae, lembrando que os cuidados são fundamentais para evitar problemas futuros, tais como, uma gravidez não planejada. No campo da sexualidade, Rozilda Gama enfatiza que os adolescentes deficientes não são mais aguçados como dizem por aí, no entanto, explica, direcionar atividades, ocupações, rotinas estruturadas evita desvios comuns nessa época em que os hormônios estão à flor da pele.

A afetividade é apenas um item da natureza humana tratada com toda seriedade que o assunto requer. Olhando para os atuais pares da instituição, a diretora se alegra ao revelar que nas aulas e oficinas ministradas pelos profissionais, dentre eles psicólogos, os alunos apresentam suas dúvidas, mostram seus conhecimentos. Falam e são ouvidos atentamente pela equipe. Assim, meio à conversa, eles aprendem e seguem felizes vivendo os encantos do namoro, expondo o amor de forma simples, verdadeira e, claro, consciente.

Sobre a troca de presentes, Rozilda Gama ressalta que, por ter acontecido de forma natural, espontânea, sem o planejamento da instituição, além de emocionar mostrou maturidade, o gesto se tornou mais uma prova de que a pessoa deficiente está por dentro de tudo que acontece na sociedade. “É resultado de um trabalho de muitos anos da Apae: a conscientização e a valorização do próximo”, finaliza.

(Fotos: Apae de Três Pontas)

 

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