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Especial Dia do Professor – “Decidi fazer algo mais por eles e por mim”

Nena e Alunos DoisAo assumir a turma de 5º ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental “Lourides Dell Porto”, em Caieiras, município bem próximo à Capital de São Paulo, Maria de Fátima Destro Arruda, se deparou com uma série de problemas. Alguns alunos apresentavam certas dificuldades, nem sempre possíveis de compreensão e o mau comportamento rondava o grupo, dificultando a relação educador-estudante e ainda colocando em risco todo o processo de aprendizagem.

Com paciência, a professora aplicou estratégias de sala de aula, mas teve sensibilidade o bastante para perceber que não eram suficientes. Então, decidiu inovar e conhecer melhor cada um daqueles pequenos indivíduos. Resolveu fazer mais por eles e por ela mesma, demonstrando preocupação em não apenas ensinar, mas, como professora ocupar o devido lugar na vida daquelas crianças deixando marcas positivas, talvez úteis para uma vida inteira.

Depois de muito analisar a turma, pesquisar e refletir veio a ideia – nada convencional -de conhecer a residência dos alunos e almoçar com eles. “Se Luciano Huck, Gugu e outras celebridades fazem isto, por que não conhecer melhor o contexto destes meus alunos, suas casas, o que mais gostam de fazer quando estão lá, suas famílias, seus cachorros etc?”, pensou Fátima Arruda.

A sugestão foi colocada em uma roda de conversa. A professora recorda que os alunos ficaram eufóricos com a surpresa, que acharam o máximo, mas concordaram com a necessidade de saber a opinião dos pais. A eles, a educadora enviou a proposta e o pedido de autorização da visita.  Algumas crianças relataram que os responsáveis acharam a solicitação meio maluca, mas aceitaram anfitriar. Nascia, então, com autorização e incentivo da diretoria da Escola, o “Professora em Minha Casa”.

Fátima Arruda diz que iniciou o Projeto sem saber ao certo como seria e que nem ela mesma acreditava no que estava fazendo. Ainda assim, foi adiante e começou por um aluno especial. “Um garoto de olhos pretos como jabuticaba, cabelos lisos e com uma fama de indisciplina que o condenava. Seu nome era conhecido em toda rede municipal”, descreve. E foi justamente por esse pequeno estudante que ela diz ter se apaixonado logo que assumiu a sala. “Sentia muita tristeza naqueles olhos negros. Conhecia um pouco sua história de vida. Com apenas nove anos, ele sente muito a falta da mãe que foi tentar a vida fora do Brasil quando ele tinha cinco anos e nunca mais voltou. A avó é quem cuida dele e da irmã”.

Nena e Aluna Charrete

Certo dia, a professora foi surpreendida e, ao invés de levar a aluna para casa em seu carro, ela é quem foi conduzida para a visita… de charrete!

A professora diz que no dia combinado, o garoto assistiu à aula, visivelmente ansioso. E ela também porque desconhecia o que viria pela frente. Encerrado o período, o menino a ajudou a carregar as “tralhas” até o estacionamento da Escola. Os dois entraram no carro e a educadora seguiu a orientação do aluno. Levar a criança para casa faz parte do Projeto. No percurso, Fátima Arruda percebeu um brilho diferente nos olhos do menino e se lembra que um raro sorriso foi estampado no rosto dele. Se sentiu honrada porque, assume, não teve trabalho algum para promover aquela felicidade.

“Quando chegamos, ele fez questão de me apresentar para os vizinhos que estavam na rua. A avó me recepcionou um tanto acanhada. Quando entrei na casa, me deparei com a mesa posta, um almoço de segunda-feira, que mais parecia um dia de festa. A melhor comida, a avó tinha preparado. Foi então que percebi o quanto eu era importante, me senti uma celebridade e confesso que tive medo. Foi um almoço inesquecível para mim e certamente para ele. Voltei para casa impactada e feliz”, relata.

Assim começou a série de visitas que duram em média uma hora e meia, tempo em que há interação e troca de conhecimentos a respeito do aluno. No decorrer de 2014, as segundas-feiras se tornam para a professora mais emocionantes e significativas. De acordo com Fátima Arruda, cada casa visitada é uma surpresa, no entanto, o carinho e respeito são unânimes e capazes de fazer com que ela se renove como educadora.

Alguns alunos ainda não foram visitados porque ficam sob cuidados de babás ou vizinhos enquanto os pais trabalham. Mas estão nos planos da professora ir também à casa deles, assim como continuar com o Projeto no próximo ano letivo, a fim de ajudar outra nova turma.

Nena e Aluno Um

“Todas as ações e falas do professor são percebidas pelo aluno a partir da posição que este professor ocupa no inconsciente do aluno”

“Estou muito feliz com o Projeto e acredito que realmente nós educadores somos mais do que a maioria acredita ser. Tenho os relatos destes alunos visitados, bem como das famílias e tenho muitas histórias…”, analisa.

Segundo Fátima Arruda, muito tem sido debatido e escrito sobre a importância do bom relacionamento professor-aluno, no entanto no dia a dia em sala de aula, nem sempre a convivência harmônica e segura acontece. Independente de quem seja a culpa pela falta de entrosamento, a educadora defende que cabe ao professor tentar estabelecer condições que propiciem a boa relação afetiva em nome da aprendizagem e também do crescimento pessoal.

“Todas as ações e falas do professor são percebidas pelo aluno a partir da posição que este professor ocupa no inconsciente do aluno e isto propicia a este professor um ‘poder’ que poderá influenciar o seu aluno em suas ideias e valores. Então, precisamos ser humildes o suficiente para considerar e dar a eles apoio em suas dificuldades”, finaliza.

Fátima Arruda morou muitos anos em Três Pontas e possui amigos e alguns familiares no Município. A iniciativa dela é um bom meio para, neste 15 de outubro, prestar homenagens e reconhecer a importância do professor, independentemente de onde ele atue, já que ela cumpre com prazer e disposição o ensinamento de “Boas”. O escritor defende que “a função do educador não é mais apenas a de dar aulas, mas sim, ser capaz de assumir, face às exigências da vida contemporânea, tarefas diferentes daquelas que tradicionalmente lhes eram atribuídas: transmitir o saber historicamente acumulado na sociedade”.

 

 

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