Educação, Cultura e Lazer

Alunos da Escola Tancredo Neves de Três Pontas confeccionam bonecas Abayomi em comemoração ao Dia da Consciência Negra

Arlene Brito

Quem conhece pelo menos um pouco da história do Brasil sabe que as negras africanas eram capturadas e trazidas para o nosso país como escravas. Mas alguém tem ideia do que essas mulheres faziam durante os longos e terríveis dias de travessia a bordo dos abarrotados navios tumbeiros?

Principalmente as mães, que vinham acompanhadas de seus filhos, confeccionavam com muito amor, criatividade e habilidade brinquedos para aliviar o sofrimento das crianças. Rasgando as próprias saias, com as tiras elas faziam bonecas chamadas Abayomi. De origem Iorubá, Abayomi significa “encontro precioso” e serve para meninas e meninos, sem distinção. À época, as bonecas também eram consideradas amuleto de proteção e uma recordação valiosa.

Bonecas Abayomi serão expostas em Feira Cultural da Escola, neste sábado (24)

“Esta boneca não tem contorno de olhos, não tem boca, não tem rosto porque é resultado de várias etnias. Nos navios haviam negros de Angola, Moçambique, Guiné; negros muçulmanos e seguidores da umbanda, do candomblé. Ali eles se encontravam, uma alegria imensa, um acalento materializado na troca de bonecas, um presente de uma etnia para a outra”.

Professora Milene, uma das idealizadoras do projeto, com a aluna Gisele

Foi o que ensinou a professora de História, pós-graduada em História do Brasil – Milene Cândido Ferreira, aos alunos da Escola Estadual Presidente Tancredo Neves, em Três Pontas. E para o Dia da Consciência Negra, comemorado na última terça-feira, dia 20, ela e a também professora, Taís Rosa Siqueira Ferrarese, propuseram aos estudantes experimentarem a arte popular que se posiciona como instrumento de conscientização, como “elemento de afirmação do poder e determinação das mulheres negras”.

Empolgados com a sugestão educativa vinda das professoras Milene e Taís, alunos do 6º, 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental, 1º ano do Ensino Médio e do noturno (EJA) se envolveram no projeto. Os retalhos foram doados pela empresa Kimono e Cia, onde a aluna do EJA, Valquíria, é designer de costura.

“As meninas recortaram, interagiram, mas os meninos ficaram ainda mais empolgados. Achei bacana porque estão valorizando as mulheres. Acho que se comoveram com a história e fizeram bonecas pensando em presentear sobrinhas, por exemplo”, conta Milene. A produção rendeu tanto, brinca, que dará para levar Abayomi para a família inteira, mas só depois da exposição na Feira de Ciências, Arte e Cultura que acontecerá na Escola Presidente Tancredo Neves neste sábado (24), com início às 8 horas.

Em todo lugar…

Ao trabalhar a resistência da mulher negra através do projeto Abayomi, a Escola Presidente Tancredo Neves destaca concomitantemente Zumbi dos Palmares, um dos principais personagens do movimento negro contra a escravidão no país, abolida em 18 de maio de 1888. Zumbi foi morto em 20 de novembro de 1695. Em 1995, a data foi adotada como o Dia da Consciência Negra no Brasil.

“Somos latino-americanos, temos uma mistura de raças e o nosso idioma vem do português, do africano e do índio. Assim, o nosso Zumbi vem do Iorubá e significa guerreiro”, finaliza a professora Milene, aproveitando para agradecer o apoio por parte da diretoria da Escola.

Além do feitio das bonecas várias outras atividades unindo as disciplinas Geografia, História e Português foram desenvolvidas na “Presidente Tancredo Neves” com o objetivo de proporcionar conhecimentos sobre os aspectos históricos que levaram ao fim da escravidão e suas consequências imediatas na sociedade. 

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