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“Eu saio de cabeça erguida. Estou muito tranquilo porque saí pelo bem de uma comunidade inteira”, afirma ex-prefeito de Três Pontas Dr. Luiz Roberto

Arlene Brito

Dr. Luiz Roberto e Marcelo Chaves durante campanha eleitoral em 2016 (Foto: divulgação)

Nas Eleições de 2016, com 20.584 votos (60,96% dos votos válidos), o médico Luiz Roberto Laurindo Dias (PSD) se tornou prefeito de Três Pontas para seu primeiro mandato. Afirmando que vinha sofrendo forte perseguição política, ele renunciou ao cargo na última terça-feira (22). Justificou que a intenção era a de preservar a família e a população trespontana. A ideia, disse, é afastar o alvo (ele) para deixar Três Pontas crescer.

Imediatamente, o vice-prefeito Marcelo Chaves (PTC) assumiu como Chefe do Executivo Municipal e deu início à formação de uma nova equipe de Governo. A posse oficial está agendada para segunda-feira (28), às 18 horas, na Câmara de Vereadores.

A renúncia aconteceu sete dias depois de deflagrada a Operação “Trem Fantasma”, que culminou na prisão de cinco membros da Administração, investigados sob suspeita de fraudes em compras de peças e combustíveis feitas pela Prefeitura e de mais uma servidora, suspeita de coibir testemunhas de um incêndio que destruiu arquivos do município. O “incidente” foi registrado na noite anterior à ação do Ministério Público.

Na tarde desta quinta-feira (24), Dr. Luiz Roberto recebeu o SintonizeAqui. Veja a entrevista exclusiva.

Entrevista
Luiz Roberto Laurindo Dias
Prefeito de Três Pontas (1º de janeiro de 2017 a 21 de maio de 2018)

Dr. Luiz Roberto, qual é o sentimento que o senhor carrega hoje em relação ao exercício do cargo de prefeito de Três Pontas?

Um sentimento de missão cumprida. Nestes quase 17 meses como gestor municipal nós fizemos muito pela cidade. Pagamos os servidores públicos em dia porque sabemos a importância do salário para um pai de família. Nós urbanizamos Três Pontas cuidando, por exemplo, das praças. Colocamos o Catavento para funcionar, arrumamos o prédio e levamos pediatras para lá. Nós conseguimos mais de seis ônibus para a Educação e até criamos um livro com atividades que focam a nossa realidade local, isto é incrível e terá sequência, além disso, conseguimos carteiras, material de cozinha para escolas. Nós conseguimos oito carros para a Saúde e uma ambulância toda equipada. Nós conseguimos dois tratores para a Secretaria de Agricultura, que servirão à agricultura familiar. Nós conquistamos o ICMS Rural e o ICMS Ecológico, organizamos o Aterro Sanitário e hoje tem gente lá gerenciando. Conseguimos quase R$ 2 milhões para a Santa Casa e conseguimos verba para a Saúde, através de deputados.  Conseguimos material para todos os centros de Saúde e compramos mais de R$ 300 mil de materiais, dentre eles, desfibrilador para o Pronto Socorro e está chegando mais R$ 500 mil de emendas para a área da Saúde. Nós colocamos o ultrassom do Ciama para funcionar, que estava lá encaixotado. Carro para a Guarda Municipal, melhorias constantes nas estradas rurais, enfim, nós trabalhamos muito. E conseguimos aumentar as oportunidades de emprego, através da ArtVac, CP Agrícola e de outras empresas que participaram e vão participar de licitação para ocupar uma área de quase 40 mil m²; elas vão gerar emprego para a nossa gente. Se tudo correr bem, no final do ano a Prefeitura terá um superávit de R$ 7 milhões, então, vejo que nós fizemos, sim, bastante coisa boa e meu dever foi cumprido.

Fazendo este relato, o senhor quer dizer que soube administrar o município?

Acredito que sim, que eu soube. Administrar é você fazer a parte política, é buscar politicamente os recursos que os deputados têm em emendas e em fundo perdido, enquanto o secretariado organiza as secretarias, o trabalho. Se o prefeito fica parado, sentado – em algum momento alguém vai sentir, como aconteceu com o nosso Hospital que quase fechou. Hoje tenho uma leveza espiritual, sinto que algo de bom eu deixei.

Toda experiência traz um aprendizado, concorda? Que maior lição o senhor tira da vivência de prefeito?

A vontade é de fazer muito mais, mas o dinheiro é finito, então, o prefeito tem que fazer contingenciamentos, tem fazer economia e investir naquilo que é urgência, que é emergência. Todos os dias tem que trabalhar com um projeto bem definido para não gerar perda de tempo e de dinheiro público, enfim, o aprendizado na administração pública é muito grande em termos de vivência. Aprendi ainda que o servidor público é muito inteligente, tem um olhar muito importante e quem dele se aproxima administra bem. Esse negócio de servidor público ser vagabundo, não trabalhar é mentira. O servidor dá caminho ao gestor, mas o gestor tem que se aproximar do funcionalismo. Respeito ao próximo eu sempre tive e isto foi fortalecido.

Dr. Luiz Roberto, o verdadeiro motivo da sua renúncia, qual foi?

Eu senti que o foco da perseguição era eu e que esta perseguição já estava afetando a minha família. Meus filhos já não mais seguiam seus compromissos, ficavam o tempo todo aqui como se quisessem me proteger e eles já estavam sendo intimidados pela própria sociedade. Comecei a me preocupar com as possíveis reações e constrangimentos dos meus filhos, então, reuni minha família e anunciei a minha decisão.

Em algum momento, a sua decisão sofreu interferência do grupo político que apoiou Dr. Luiz Roberto e Marcelo Chaves nas eleições?

Não. A renúncia foi decisão minha.

A Operação “Trem Fantasma” de alguma maneira pesou para a sua renúncia?

Em situações como esta, perde-se a credibilidade o que dificulta o gerenciamento. Mesmo que você mude as peças, está marcado, tem gente olhando e dizendo: ‘olha lá, está fazendo isso, está fazendo aquilo’. Perdeu-se muito a credibilidade. Se o foco era eu, eu saio e o Marcelo consegue administrar. Rezo todos os dias para que a cidade caminhe com o Marcelo e que ele consiga administrar.

As suspeitas e a investigação pegaram o senhor de surpresa?

Sim, foi um susto porque eu não sabia e ainda não sei o que estava acontecendo. Eu não sei se tem algo errado na Prefeitura. Depois de deflagrada a Operação, nós chegamos a fazer uma reunião para decidirmos sobre a contratação de uma empresa, vias legais, para fazermos uma auditoria externa. Para mim, a Administração estava andando normalmente, licitações legais, fornecedores, inclusive de combustível, legais. Eu conversava praticamente todos os dias com o Gileno [então secretário de Obras, investigado pelo MP] porque eu precisava saber o roteiro das máquinas, quais praças estavam sendo revitalizadas, quais ruas estavam recebendo tapa-buracos para eu informar a população. 

Em entrevista ao SintonizeAqui, o senhor afirmou que estava sempre de olho e que cobrava ações e resultados, se referindo ao seu secretariado. Agora, com secretários e servidores investigados, sob suspeita de fraudes em compras da Prefeitura, acha que houve descuido da sua parte?

De forma alguma. Eu sempre ligava e conversava com eles, a gente estava bem perto do secretariado.

Sua expectativa quanto às investigações da Operação “Trem Fantasma”.

Eu acho que as coisas têm que ser consertadas, sim. Eu acho que tem que dar nome aos bois para nós sabermos quem é quem e acho que quem errou tem que pagar pelo erro. O que não pode é deixarmos pessoas que não erraram, que por uma fala mal colocada estão sofrendo, continuar sofrendo. Eu espero justiça. Estou torcendo para que tenha um erro no sistema, que as pessoas não sejam culpadas porque são pessoas da cidade, pessoas com as quais convivemos e de famílias com as quais convivemos. Espero que não tenha havido erro, nada ilegal por parte dos secretários, dos servidores, dos empresários.

O senhor também foi ouvido pelo Ministério Público?

Sim. Eu, como prefeito de Três Pontas fui convidado e aceitei ir ao Ministério Público porque, como a própria Promotoria adiantou, não há nada contra mim neste processo desencadeado na Operação “Trem Fantasma”. Fui até a Promotoria na terça-feira, respondi a várias perguntas em relação à compra de peças e falei, inclusive, que em uma Prefeitura com 1.700 funcionários cada um fala o que quer, então, há informações truncadas. Eu contei que no dia 5 de julho de 2017 eu reuni com o controlador Interno, o Reinaldo Vasconcelos, e começamos a fazer um ofício para todas as secretarias, informando que só poderiam pegar peças em empresas licitadas, mediante empenho ou ordem de fornecimento assinados. As empresas também foram informadas sobre a decisão de não entregar peças sem empenho ou ordem de fornecimento assinados. As compras documentadas, os lançamentos no sistema, pensamos, evitariam as fofocas. A Promotoria, inclusive, achou interessante a nossa iniciativa, a nossa conduta.

Depois disso, não ficamos em cima porque os secretários são ordenadores de despesas. De uns meses para cá começamos a ter novamente problemas em torno de veículos da Saúde e Obras, no sentido de ‘vai consertar onde?’. Aí fizemos um fluxograma e colocamos que os da Saúde seriam consertados no Almoxarifado, porém, a Saúde liberaria a ordem de fornecimento, ligaria para a empresa liberar a peça. Ficou assim esquematizado. Há cerca de 15 dias, eu soube que tinham 11 carros da Saúde parados no Almoxarifado para serem consertados. A  Administração Pública é lenta e quando a gente quer modernizar, acham que é a gente é chato.

Também falei da escolha dos membros da minha equipe e que eu iria renunciar e ouvi que não havia neste processo nada contra mim. Eu já tinha certeza, mas eu precisava ouvir isso do Ministério Público. Fiquei muito tranquilo e ainda mais tranquilo para renunciar e proteger minha família.

Perseguição a Luiz Roberto. Por que e por quem?

Existem pessoas que fazem comentários do tipo: é forasteiro. Existem pessoas que comentam: ele não vai administrar bem. Existem pessoas que perdem eleição… Uma pessoa me perguntou: ‘você não vai trocar a placa do seu carro? Quando você perdeu a eleição, o vencedor trocou a do carro dele  e colocou nela 217, referindo-se aos votos a mais que teve de você’. Isto é muito pequeno, o meu nível de pensamento é outro: é fazer com que a cidade cresça, evolua. Ficar trocando placa? A gente tem é que gerar emprego, dar condição das famílias terem comida e saúde, é batalhar contra a pedofilia, é buscar meios de ampliar os cursos oferecidos na nossa faculdade, é melhorar a Educação no município. Nós fizemos isto, nós trabalhamos invés de ficar perseguindo servidores.

Prefeito Médico Cardiologista Três Pontas Luiz RobertoO senhor ameaçou alguém como foi sugerido no Plenário da Câmara Municipal?

Não. O que aconteceu foi o seguinte. Nós estávamos conversando e eu disse: nós temos que parar com isto que está acontecendo porque Três Pontas é uma família única e isto traz um embate muito grande e uma animosidade entre as famílias. As pessoas que ficam chamando uma pessoa que foi presa de ladrão, se esquecem que são parentes porque uma família puxa a outra. Isso traz uma dor muito grande nas famílias e, às vezes, alguém pode fazer besteira: uma briga, uma agressão física com arma e pode acontecer de alguém trazer uma pessoa de fora que mata e vai embora, pode acontecer; a pessoa dorme, e amanhece morto. Mas eu não citei nomes, eu não falei em ameaça, eu não falei em Robertinho. O que o vereador “Coelho” falou é uma inverdade. A minha colocação, a explicação que eu quis dar é sobre o perigo que existe se alguém partir para cima de outra pessoa e numa agressão pode acontecer um monte de coisa. O vereador que é um irresponsável porque instigou mais uma situação.

O senhor enxerga um grande erro seu como gestor?

Já viu que todas as pessoas são técnicas da seleção de futebol? É assim também na Administração Pública, as pessoas são prefeito dentro e fora da Prefeitura. Eu escuto, mas as pressões não me pegam, eu não dou murro em mesa porque acho que o mundo precisa de diálogo e não de armas para resolver os problemas. Tentei mostrar às pessoas que problemas são resolvidos com conversa e não com punho. E tem gente que não entende, que acha que eu, enquanto prefeito, tinha que gritar, que esbravejar. As pessoas têm que ter consciência que um prefeito, secretário, chefe de divisão, servidor têm que fazer o bem comum, o bem ao povo e ao servir ao povo, servir com diálogo. Nada de ter poder, que poder? O poder a gente ganha do povo quando satisfaz o povo. Poder? Aí leva uma cacetada de 8.150 votos nas urnas, deixa de ser o todo poderoso, mas ainda assim quer pegar o poder, mas o poder jurídico e não o poder dado pela população.

O senhor acha que Três Pontas está sendo ingrata com uma pessoa que escolheu a cidade para viver, para trabalhar, para criar os filhos?

Não. Três Pontas foi e é grata à minha pessoa e eu sou grato às pessoas daqui. Sou muito feliz nesta cidade que é maravilhosa.

Dr. Luiz Roberto, o que os trespontanos podem esperar do senhor de agora em diante?

Eu e minha esposa sempre fizemos trabalhos sociais. Sempre estamos juntos com a Apae, com a Vila Vicentina (de onde me afastei um pouco enquanto eu estava prefeito devido a alguns diretores, mas as portas do meu consultório estão abertas para os nossos velhinhos), com a Casa da Sopa. Sempre nos dedicamos à instituições da cidade e vamos seguir a nossa linha.

O que o senhor pensa em relação ao seu sucessor?

Os nossos projetos – o meu e o do Marcelo – são muito parecidos, são o de fazer o bem para a população. Espero que todos entendam que a cidade tem que crescer, tem que melhorar, tem que ser administrada com muito amor e que também a população entenda que o mais importante é o bem comum. Quando eu fui prefeito, o importante era o pensamento conjunto, da cidade, era importante o que era importante para a cidade e não para mim. Quando alguém assume um cargo como este, tem que raciocinar como sociedade, é o pluralismo que existe e não o singular, o eu deixa de existir.

O senhor sai como um covarde ou de cabeça erguida?

Eu saio de cabeça erguida. Estou muito tranquilo porque saí pelo bem de uma comunidade inteira. Quero agradecer a todos que trabalharam comigo, agradecer ao Marcelo. Acho que a população tem que investir nele; o Marcelo é um cara bom, tem uma visão política boa e isto está no sangue – ele é primo de Aureliano Chaves. Quero agradecer à população por ter acreditado na gente e quero dizer a vocês que a cidade não precisa de ditadura, a cidade precisa de democracia, de pessoas que vejam a população mais carente e traga essa população para perto da Administração Pública para que essa população possa ter direito à saúde, à educação, ao trabalho, ao urbanismo. O que precisamos é acreditar nos bons políticos e em Três Pontas tem, o Marcelo Chaves é um bom político.


Sintonize mais: Marcelo Chaves toma posse como prefeito de Três Pontas. Veja como foi o ato.  

 

 

 

 

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